n. 38 (2023): AS SEMENTES DO VERBO (I)

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Brindamos a comunidade acadêmica com este importante dossiê sobre a temática “Sementes do Verbo”. Um tema de fundo cristológico e eclesiológico. Cristológico porque faz-nos olhar para a presença do Verbo Divino além dos espaços comuns a que somos habituados. Eclesiológico, porque permite um sensato diálogo interreligioso e cultural, já que este não se resume apenas ao ambiente eclesial, mas está presente nas diversas religiões e nos outros espaços de busca da verdade e do bem.
Dr. Marcial Maçaneiro presenteia-nos com um artigo sobre “As sementes do Verbo segundo Justino” retomando de forma articulada e genial um tema clássico dos inícios da Patrística. Seu artigo reflete como Justino, através de algumas de suas obras de relevo filosófico e teológico, faz uma leitura do pensamento helênico precedente ao seu, encontrando neste, através da busca da verdade e do bem, elementos fundamentais do Verbo Encarnado. Isso permite perceber que os dois campos do saber, ou seja, a tradição filosófica e a tradição cristã podem entrar em um frutífero diálogo. Não em um campo abstrato de confusas ideias, mas em um percurso de seriedade acadêmica e, sobretudo, de busca da verdade que em muitos pontos continua a se alinhar.
No segundo artigo que parte das memoráveis reflexões do Papa Bento XVI – Joseph Ratzinger, o professor Thales Maciel parte do conceito do Lógos, caro a tradição tanto bíblica como helênica. A mútua influência do cristianismo e mundo helênico deixou herança importante em ambas as matrizes de pensamento, demonstrando sua porosidade ao diálogo. O Lógos, que em si numa primeira acepção poderia circunscrever-se em um conceito, na unicidade da sua identidade, razão e sentido, se abre ao dia-logós, pois a revelação divina comporta relação com o mundo e proximidade com ele. O Concílio Vaticano II reconheceu, sobretudo, por meio da Constituição Dogmática Lumen Gentium, a presença de abundantes e florescentes valores nas diversas culturas, povos e religiões. Dr. Alexandre Favretto, por meio de uma análise diacrônica, faz-nos perceber que a discussão sobre as “sementes da verdade” já presentes, sobretudo, no período patrístico, foram um enriquecimento incalculável para os inícios da evangelização da Igreja. A Lumen Gentium, em uma maior polissemia terminológica, expressou esta realidade de forma ainda mais orgânica, e que permite à Igreja reconhecer e aprender da realidade circundante, valores positivos, e pontos de apoio ao diálogo e a evangelização.
O professor de Filosofia, Dr. Flávio Marcos dos Passos em um importante pesquisa, cujo título sugestivo – “A Trindade entre João e João” – faz dialogar com dois importantes filósofos: John Locke e John Newman, em torno do conceito da plausibilidade da existência da Trindade. Demonstra que a seriedade e a coerência da pesquisa, não necessariamente precisam convergir para o mesmo ponto de chegada, mas permitem um profícuo diálogo, sem proselitismo ou opiniões sectárias embebidas da última notícia jornalística. A epistemologia teológica, dimensão fundamental e cardeal para a credibilidade do cristianismo com suas afirmações de fé, pode ser tomada em um ambiente de cordial diálogo e não de defesa cega e manipuladora do fideísmo, muito presente em nossos tempos. Por fim, o MSc. Pe. Daniel Ribeiro, missionário em terras asiáticas, brinda a presente edição, com um artigo em língua inglesa, recuperando a genuína tradição de Bento XVI – Joseph Ratzinger, acerca da Eucaristia como sacrifício, muitas vezes transcurada nas celebrações e na teologia, e, desta forma, devedora do seu significado primeiro, enquanto evento redentor, caminho de sentido e fonte de evangelização. Auguramos que este número da Revista Teologia em Questão – TQ, sirva de estímulo, aprofundamento e futuras pesquisas sobre um tema fundamental de nosso tempo: um cristianismo em diálogo. Isso porque as religiões, e, sobretudo, o cristianismo é grande devedor no reconhecimento dos valores já presentes na sociedade e em suas diversas instâncias, bem como anunciador e construtor dos mesmos. Sem um diálogo honesto, sereno, fundamentado entre as religiões e destas com a sociedade, caminhamos sem um projeto sério de um mundo mais digno para todos. Enfim, expresso minha gratidão imensa ao prof. MSc. Pe. Lucas Luís de Mello, por este tempo em que esteve como editor responsável da Revista TQ. Os artigos aqui publicados são frutos do seu diálogo constante com os autores. Gratidão pelo trabalho!

Publicado: 10.08.2023